Ao ler os primeiros parágrafos vocês vão entender o significado do título desse post. Há seis anos, motivado exatamente por uma viagem à Pequim, esse blog passou a existir. Viajando em família passamos cerca de um mês em Pequim, além de algumas outras cidades da China e Japão. Foi uma experiência muito marcante. As diferenças culturais para nossos filhos – que ainda não tinham se aventurado pela Ásia – foram extremamente enriquecedoras. Eram tantas novidades que só mesmo compartilhando o dia-a-dia na rede para acalmar os sentimentos em ebulição. Assim nasceu o Viajar Pelo Mundo! O tempo passou. Muitas outras viagens aconteceram nesse meio tempo. O blog ganhou relatos sobre 48 países visitados entre julho de 2008 e maio de 2014. As viagens realizadas antes disso não receberam posts, pois confesso que não olhava para o mundo com a mesma atenção e curiosidade de hoje. Fazia viagens um tanto superficiais. Nem mesmo lembrava de fotografar os lugares por onde passava. Não mergulhava fundo nas diferenças culturais. Não devorava a história do país antes de chegar ao meu destino. O blog me fez olhar para a vida com mais carinho, com mais cuidado, com outros olhos. Foi um divisor de águas. No momento em que o blog nasceu, uma nova janela se abriu à minha frente para que eu visse o mundo com novas cores. E Pequim foi o motivo. Fomos recebidos de braços abertos pelos chineses curiosos. Na época, o turismo ainda era incipiente. A China recém estava saindo do comunismo. Caminhava timidamente tentando planejar sua abertura. Na rua éramos sempre motivo de olhares disfarçados. Os mais despachados chegavam perto e até pediam para tirar uma foto. Alguns, arriscavam umas palavrinhas em inglês. À China retornamos cinco vezes e sempre com uma passadinha em Pequim. Afinal, a cidade ficou marcada no coração de toda a família com muito carinho. Agora, a China já não nos causa tanta estranheza. Bem pelo contrário, se tornou muito familiar. E mesmo assim, sempre revela belas surpresas. É muito bom voltar. Respeito demais as diferenças e gosto da cultura, da história, da arquitetura, dos templos, dos hotéis, das massagens, dos mercados e por que não… da culinária chinesa. Basta estar aberto para experimentar e aproveitar o novo. Não tem como não sair encantado da China.
UMA CIDADE EM PLENA TRANSFORMAÇÃO
Nessa última visita à China fiquei perplexa ao perceber como a cidade está mudando rapidamente. Há alguns anos, quase não havia carros pelas ruas. A bicicleta era sem sombra de dúvida o meio de transporte mais usado pela população. Mas, onde elas foram parar? Incrível. Quase sumiram das ruas de Pequim. Elas que dominavam a paisagem estão sendo substituídas pelos carros ou por bicicletas elétricas. E com isso, o trânsito está cada dia pior. E é até perigoso andar de bicicleta.
Um outro primo da bicicleta, o riquixá, também está sumindo do mapa. Nessa viagem, não vi nenhum riquixá nas áreas mais centrais de Pequim. Até porque os “hutongs” também sumiram e os riquixás circulavam pelas vielas estreitas dos “hutongs”. Mas, já em 2008, o governo estava tentando modernizar o centro de Pequim e era claro que as “favelas chinesas” estavam com os dias contados. Sendo assim, quem não andou de riquixá pelo centro, não terá mais essa chance. Eles ainda existem em alguns locais específicos e não se sabe até quando. E quem ainda não circulou por um “hutong” em breve não circulará mais. Todos os que ficavam nas imediações da rua Wangfujing (que é a principal rua comercial de Pequim) foram abaixo. Os remanescentes ficam mais afastados e as entradas são bem discretas para não chamar muita atenção.

Outra coisa interessante é que antes os ocidentais chamavam muita atenção em Pequim. Agora isso já não acontece mais. Ainda senti essa curiosidade em Nanjing, que não é uma cidade muito turística. Mas, em Pequim isso já faz parte do passado.
O que não muda, aliás só aumenta, é a quantidade de gente. Onde quer que se vá milhares de feições parecidas, rostos arredondados, cabelos pretos e olhos puxados, aparecem em profusão. Como tem gente saindo pelo ladrão, algumas diferenças culturais ficam muito evidentes e são interessantíssimas. Os chineses não têm muita restrição quanto a invasão do espaço corporal de outra pessoa. Passam perto, encostam, furam fila sem o menor constrangimento. Afinal, o ordem é conseguir um lugar ao sol. Entenda quando alguém furar a fila sem a menor cerimônia bem na sua frente ou quando uma vendedora de loja agarrar insistentemente no seu braço para chamar sua atenção. Isso é cultural. Viajando e aprendendo. Sempre quebramos alguns paradigmas ao circular pelo mundo.
Outro aspecto interessante na China e que não mudou muito nesses anos é a liberdade de conexão pela internet. Apesar de ser um país moderno, muitos sites são bloqueados pelo governo. A política ainda permeia todos os aspectos da vida, mesmo que de modo disfarçado. Meu blog, por exemplo, não abre na China. Os estrangeiros que moram no país precisam usar alguns recursos para conseguir se manter conectados com o mundo externo. MAS HÁ O QUE NÃO MUDE HÁ SÉCULOS A Grande Muralha começou a ser construída ainda “antes de Cristo” quando a China nem era unificada. Nessa época, havia vários pequenos reinos vizinhos. Todos tinham fortificações para ajudar na defesa dos ataques dos povos do norte. Quando esses reinos se uniram para formar a China, muralhas começaram a ser feitas de um forte ao outro para reforçar a proteção. E assim foi por dois milênios, da Dinastia Chin à Dinastia Ming. Nesse período milhares de quilômetros de muralhas foram feitos. Li em um artigo que há 3 mil quilômetros de muralhas, em outro que há 8 e em outro que há 20. Fica a dúvida. Mas, isso não vem ao caso porque não se consegue trilhar mais do que um quilômetro em uma visita, a menos que se faça um tour com guias especializados. As subidas das escadarias costumam ser muito íngremes e tem trechos destruídos por onde não se pode continuar. O que importa é que o símbolo máximo do isolamento chinês está lá. Imponente há séculos e séculos. No entanto, mesmo parecendo intransponível, os mongóis e os manchus conseguiram ultrapassar e invadir a China nos séculos XIII e XVII.
Antes mesmo de sair de casa eu já tinha programado os lugares que queria rever ao chegar em Pequim. O primeiro a figurar na lista era a Grande Muralha da China. Já estive três vezes nas Muralhas. Em cada uma delas escolhi uma entrada diferente para conhecer um novo pedaço daquela serpente em forma de muro que atravessa desertos, colinas e planícies por milhares de quilômetros. A força desse lugar é impressionante.
Há vários pontos de acesso para a Muralha. Inclusive, em outras cidades que não Pequim. Mas, de Pequim fica perto. São menos de 100 quilômetros. Todos os hotéis tem passeios de um dia até lá. Fique atento apenas ao fato de que eles incluem paradas em lugares que às vezes não interessam como fábricas de jade, oficinas de cloisonné ou casas de massagens. Nas três vezes optei por carro privado com motorista ou táxi.
Na primeira vez fui a Simatai que fica mais longe e têm menos turistas, são 110 quilômetros. Da segunda vez fui à Badaling que fica bem pertinho, 70 quilômetros. E, dessa vez fui à Mutianyu que fica a 90 quilômetros e têm bondinhos para agilizar a subida. Estava muito vazio como dá para ver pelas fotos, pois o presidente dos Estados Unidos Barack Obama estava à caminho para uma visita e assim que entrei (cheguei antes das 9 horas, bem cedo) os portões foram fechados. Pura sorte. Caso contrário haveria muita gente.
A IMPERDÍVEL CIDADE PROIBIDA
Exatamente no coração de Pequim é onde fica o maior complexo arquitetônico da China, a Cidade Proibida. Fantástico. Sempre que retorno à Pequim e visito a Cidade Proibida saio sensibilizada. A construção foi finalizada em 1420 e abrigou nada mais nada menos do que 24 imperadores, que reinaram por quase 500 anos. É muita história.
A Cidade Proibida é toda murada. Está aberta à visitação desde 1950. É impressionante como os chineses conservam o palácio e suas dependências. Está tudo em excelente estado. A entrada é feita pela Porta Sul. Depois de passar por essa porta, para chegar ao local onde fica o trono mais pomposo do imperador – o Hall da Suprema Harmonia – é preciso atravessar por uma das cinco pontes de mármore que simbolizam as cinco virtudes do confucionismo e a Porta da Suprema Harmonia, onde eram feitos os banquetes das antigas dinastias. Nos telhados há sempre guardiães em número ímpar. Os chineses acreditavam que essas figuras, associadas a água, protegiam as construções de incêndios. Mais a frente se encontra o Hall da Harmonia Central, onde o imperador permanecia antes das cerimônias oficiais. Além desses, ainda tem o Hall da Preservação da Harmonia e a Porta da Pureza Celestial.
Ir a Pequim e não circular pela Cidade Proibida é como ir ao Vaticano e não ver o Papa.
TEMPLO DO LAMA
O Templo do Lama – Yonghegong – abriga um complexo de templos budistas espetaculares. Foi construído no século XVII com cinco halls principais. O primeiro tem o simpático “Buda Sorridente” ou “Milefo”, cercado pelos quatro reis celestiais. O segundo, Hall Younghe, tem outros três budas acompanhados por 18 luohan (libertadores do ciclo da reencarnação). No Hall Falum (Roda da Lei) tem uma estátua do fundador da seita do budismo tibetano. Mas, a grande estrela é a estátua de Maitreya – Buda do Futuro – com 17 metros de altura, esculpida em sândalo.
O Budismo é uma das três religiões mais difundidas na China. Promete a salvação e a felicidade para quem buscá-las. O Buda Sorridente ou Milefo simboliza a abundância. Ele é venerado por remeter a uma vida feliz e próspera.
Além do Budismo, tem o Confucionismo e o Taoísmo. Princípios filosóficos tão comuns para eles e tão distantes da vida dos ocidentais. Muitos chineses ao serem questionados sobre sua religião, simplesmente dizem que não tem nenhuma, pois durante a Revolução Cultural a religião foi proscrita por ser contrária as idéias do comunismo. O Estado tinha medo que uma forte organização em torno de uma crença pudesse causar uma rebelião contra o regime. Agora, o povo está voltando lentamente a poder expressar suas crenças.
O Confucionismo foi criado por Confúcio (551-479 a.C.). Segundo contam, ele era um homem alto para os padrões chineses, culto, tocava vários instrumentos e, além disso, era muito bonito. Assim, conseguia facilmente com que seus seguidores o ouvissem e praticassem a benevolência, que era seu primeiro preceito. Sua doutrina defendia uma sociedade estruturada em sólidos laços sociais e familiares. Todos deviam obedecer aos pais e respeitar os outros membros da família como irmãos. Famílias felizes geram filhos felizes.
O Taoísmo foi fundado por Lao Tsé, no século VI a.C. Tao em chinês significa “caminho”, “via”. Mas, no Taoismo, especificamente, o termo designa a fonte, a dinâmica, a força motora por trás de tudo que existe. Incorpora os conceitos tradicionais de um universo ordenado, do yin e do yang, e da energia do “qi” direcionada. As tradições e éticas variam de acordo com as diferentes escolas. No geral, enfatizam a simplicidade, a espontaneidade, a serenidade, a não ação (wu wei), o vazio, a contemplação da natureza, a moderação dos desejos e os Três Tesouros (compaixão, moderação e humildade).
TEMPLO DE CONFÚCIO
Muito perto do Lama Temple fica o Templo de Confúcio. Dá para ir andando e vale a pena conhecer apesar de não ser tão bem conservado como o Templo do Lama. Esse é o segundo maior Templo de Confúcio da China. Ele foi construído em 1302 durante a Dinastia Yuan. É um lugar bem sossegado, diferente de todos os outros lugares da cidade.
TEMPLO DO CÉU
Esse templo foi construído na Dinastia Ming e era o local onde o imperador orava aos céus e fazia sacrifícios no solstício de inverno.
Situa-se num parque muito agradável. É repleto de músicos, praticantes de tai chi chuan, idosos em busca de um local para fazer atividades físicas e muitos turistas. É lindo. Precisa ser visitado.
O DISTANTE PALÁCIO DE VERÃO
A NÃO TÃO CELESTIAL PRAÇA DA PAZ CELESTIAL
Palco de protestos estudantis em 1989, a Praça da Paz Celestial testemunhou o violento desfecho da manifestação. Atualmente, vive repleta de turistas. É um dos locais mais visitados de Pequim. É ampla, fica bem no coração da cidade, de frente para a Cidade Proibida. Sua atração maior é o Mausoleu de Mao Tsé Tung. Além de outras imensas construções em cimento bem ao estilo comunista: o Grande Hall do Povo (sede do Congresso chinês), a Qian Men (um antigo portão da cidade que agora é museu), Tian’an Men (portão da Dinastia Ming com foto enorme do Mao), Torre da Flecha ou Jian Lou e o Museu Nacional da China.
Foi construída pela Dinastia Ming.
Praça Celestial da Paz com o Museu Nacional da China ao fundo e à esquerda o Monumento aos Heróis do Povo.
O meu restaurante favorito de Pequim é o Din Tai Fung. Ele serve o melhor Dim Sun do mundo, que são aqueles bolinhos recheados com porco, camarão, frango ou legumes e cozidos na água. Tudo no restaurante é bom. Fica em Dongzhimen Branch, o telefone é 010/ 6462-4502. É bom fazer reserva, pois o local é bastante concorrido. Há outro em Xinguangtiandi Branch e o telefone é 010/ 6533-1536. Esse achado foi sensacional.
Para experimentar a tradicional culinária imperial da China recomendo o elegante Tiandi. Ele é super escondido e só aceita receber clientes com reserva antecipada. Uma orgia gastronômica com mais de 10 pratos bem extravagantes para o ocidente. A decoração é impecável, mas há um preço a se pagar por isso, bem alto. Endereço: 140 Nam Chi Zi Street. Telefone:010/8511-5556.
Se a idéia é experimentar um restaurante francês com toque asiático, vale tentar o The Courtyard. O restaurante promete um pouco mais do que oferece, o preço é salgado e a tão esperada vista da Cidade Proibida, não passa de uma janela para o muro lateral do palácio e para a porta de entrada leste. É um restaurante com bom serviço. Os pratos são bem apresentados. Para quem estiver com saudades da comida ocidental, vale conferir. Endereço: 95 Donghuamen Av. Telefone: 6526-8883.
Degustar um “pato laqueado” não pode faltar numa visita à China. Um dos mais tradicionais restaurantes é o China Quanjude que tem várias casas espalhadas pela cidade. Uma das mais pitorescas é a da Tian’an Men. Fica numa área que foi totalmente restaurada para as Olimpíadas e ficou um charme. Endereço: 32 Qianmen Street Chongwen. Telefone: 010/ 67011379.
Aos corajosos recomendo dar uma volta pelo tradicional Mercado Noturno da Rua Wangfujing. Saborosos (para os chineses) espetinhos de escorpião, cobra, ouriço, estrela-do-mar, bicho-da-seda, morcego e várias outras iguarias são devoradas em profusão pelos locais. É no mínimo bem interessante.
MERCADÕES PARA FAZER COMPRAS
Fazer compras em Pequim é muito engraçado. Ou você entra numa loja de grife internacional (Prada, Gucci…) ou num mercadão cheio de “cópias”. No entanto, o divertido é se aventurar num desses mercados para negociar alguma mercadoria. Em primeiro lugar o preço dado nunca é o real. É preciso paciência e bom humor. Se você gosta de alguma coisa e pergunta o preço, a vendedora digita o valor numa calculadora. Já é esperado que o comprador faça uma cara de espanto e diga que está caro. Então, ela segura no seu braço e diz “for you, friend, cheap” num inglês difícil de entender. E, digita um preço mais baixo. Você novamente mostra que achou caro e faz de conta que vai sair da loja. Então, a vendedora enlouquece , digita um valor mais baixo e agarra você com força para que não saia da loja. Bem, esse duelo demora até o preço da mercadoria ser reduzido em mais de 50% do valor inicial ou mais do que isso. Quem tem paciência se dá bem. É surreal.
A principal rua comercial é a rua comercial é a Wangfujing, um calçadão cheio de lojas, shoppings e restaurantes. Mas, há muitas opções de shoppings, lojas de ruas e mercados em Pequim. Os mercados mais interessantes são: Silk Market, San Li Tun Ya Xiu e Pearl Market (nessa ordem). Compra-se de tudo, seda, pérolas, tênis, sapatos, sandálias, relógios, cuecas, meias, camisetas, calças, carteiras, bolsas e muito mais, com preços super camaradas. Não esqueça de pechinchar muito.
Não deixe de comprar chá. Eu sou louca pelo chá de jasmim. A variedade de chás é enorme. São maravilhosos.
Uma dica: caminha-se muito e os pés ficam cansados, entre em um desses mercadões e pergunte onde se pode fazer uma massagem. Dá para optar por Foot Massage ou Back Massage. Uma maravilha por um precinho pequenininho.
UM HÁBITO CURIOSO
E a fralda do bebê?
SHOWS DE ACROBACIA
Os chineses são conhecidos mundialmente pelos seus dotes em acrobacias e equilibrismo. Sugiro o show do Chaoyang Theatre, 36 Dongsanhuan Beilu.Tel: 86/10/65072421. Muito legal.
10 COISAS QUE NÃO PODEM FALTAR NO ROTEIRO DE UMA VIAGEM À PEQUIM
- Subir e descer as escadarias da Muralha da China
- Visitar a Cidade Proibida
- Andar pela Praça Celestial da Paz, onde tem o Memorial do Mao
- Receber as bençãos no Templo do Lama
- Relaxar no Templo do Céu
- Conhecer o Palácio de Verão
- Passear pelo Lago Bei Hai conectado a vários hutongs (habitações antigas dos chineses parecidas com favelas)
- Assitir um Show de Acrobacias e a Ópera de Pequim
- Fazer uma Foot Massage ou uma Back Massage
- Degustar um Pato à Pequim