Tradicionalmente, o casamento continua detendo uma posição importante na sociedade chinesa. Apesar de todo o avanço econômico e tecnológico do país, os chineses ainda possuem uma visão de mundo patriarcal, valorizando os valores da família tradicional e priorizando o casamento e a criação dos filhos. Por isso, a partir de certa idade, ser solteiro torna-se bastante constrangedor perante a sociedade. É nesse contexto que os pais têm tentado auxiliar seus filhos a encontrar maridos e esposas anunciando-os nos chamados ” mercados de noivos “.

Todo sábado e domingo à tarde, a Praça do Povo, em Shanghai, se enche de centenas de homens e mulheres com anúncios e muita energia. São pais, mães e alguns avós desesperados para encontrar os pares perfeitos para os seus filhos e netos. Para isso, se empenham nos anúncios, geralmente em folhas de papel apoiadas em guarda-chuvas, que trazem as características principais dos homens e mulheres, como idade, altura, salário e alguns de seus pontos fortes, mas raramente incluem fotos. Destacam também o que procuram nos pretendentes, sendo bastante exigentes, da altura à idade, muitas vezes até exigindo que tenham propriedades em seu nome, que não tenham se casado antes e que sejam virgens (para as mulheres).
Mercados de noivos acontecem em diversas partes da China

O mercado de noivos de Shanghai é o maior do país, mas não o único. Práticas semelhantes vem crescendo no país na última década diante da decadência no número de casamentos – segundo o The New York Times, estes somaram 12 milhões em 2015, números que vêm recuando há dois anos na China.
Uma possível explicação para esse fenômeno reside na política do filho único, aplicada na China de 1979 a 2015, que resultou num número bastante desigual de homens e mulheres devido à preferência por filhos homens. A previsão é de que até 2020 haverão 30 milhões de homens a mais do que mulheres atingindo a idade adulta, o que deve piorar ainda mais o cenário para os que procuram casamento.
A ideia de se casar assim que se atinge a vida adulta ainda parece o caminho natural para esses pais. Muitos se justificam usando a tradição, ou a necessidade de perpetuar a espécie. “Quando chega a hora tem que casar. Para ter companhia quando ficar velho e para continuar a geração. A vida tem que continuar”, explicou Zhou, de 78 anos, um dos pais que frequentam a praça.

Apesar de sua popularidade, os mercados de noivos não parecem muito eficientes: a maioria dos pais os frequenta todos os finais de semana, por anos seguidos e ainda sem sucesso. No entanto, insistem em tentar, já que seus filhos, para eles, levam uma vida muito ocupada ou não se dedicam o suficiente na empreitada de encontrar sua alma gêmea.
A maior parte dos pais “anunciam” os filhos sem o seu consentimento. Poucos são os que têm conhecimento da atitude dos pais e realmente aprovam – alguns destacam, porém, que o ponto de encontro acaba sendo uma distração para os pais, que podem socializar com pessoas da mesma idade que partilham das mesmas angústias.
Mudanças na sociedade chinesa: mulheres que não desejam se casar
Apesar de a tradição ainda prevalecer entre as antigas gerações, é crescente o número de mulheres chinesas que não tem o casamento e a maternidade como prioridade. Nesta geração, grande parte das mulheres foram criadas como filhas únicas, centro de atenção da família e por isso cresceram sendo incentivadas a investir em seu potencial. Juntamente com um significante – apesar de lento – avanço das mulheres no mercado de trabalho, este novo contexto as incentiva a priorizar suas carreiras e seu crescimento pessoal.

Chamadas pejorativamente pelo governo de “sheng nu”, algo como “mulher que sobrou”, as mulheres solteiras com mais de 27 anos sofrem uma pressão constante da família e sociedade para se casarem, a despeito de seu sucesso em outras áreas da vida. No entanto, é cada vez maior o número de chinesas solteiras que rejeitam este termo e se orgulham de suas escolhas, certas de que suas vidas já são completas sem um marido.
Essas mulheres se recusam a casar-se apenas pela pressão social, como seus pais, e desejam, sim, casar-se por amor – ou não casarem, se assim desejarem.
A marca de produtos de beleza SK-II produziu uma campanha chamada “Marriage Market Takeover” (algo como “invadindo o mercado de casamentos”) para levantar um debate sobre essa questão, e, nas palavras do presidente Markus Strobel, “para inspirar e empoderar as mulheres a moldar seu próprio destino”. Você pode assistir ao vídeo clicando aqui ou na imagem a seguir. Confira e conte para nós o que acha do assunto!

Por Laís Barbosa, diretamente de Marília, SP, Brasil
Fontes: BBC, CNN, DailyMail, G1
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